O presente sequestrado

Ganhei o melhor presente que se pode ganhar.

Não é passado, não é futuro — é o meu presente.

Mas até esse tempo, que é meu por direito, parece que tentam me roubar.

Vivemos correndo atrás de metas, resultados, likes e promessas de sucesso futuro, como se a vida só valesse quando estiver “pronta”.

O passado virou lição apressada, e o futuro virou produto. “Planeje, invista, acelere.” Mas e o agora?

O agora tem sido triturado na engrenagem do desempenho.

É no presente que a vida pulsa — mas a gente quase não escuta. O barulho das notificações, das exigências, da comparação constante, abafa o som do próprio coração.

Perceber o cheiro do café, o calor do sol, o toque do vento… virou luxo. Ter tempo virou privilégio.

E a liberdade de simplesmente estar viva, sem precisar provar nada, virou quase um ato de resistência.

Eu quero de volta o presente do presente.

Quero estar inteira no instante, sem ser pressionada a transformá-lo em produtividade ou postagem.

Quero respirar sem culpa, amar sem urgência, falhar sem virar fracasso.

Talvez o verdadeiro presente seja esse: resgatar o tempo como território nosso.

E lembrar que viver é, antes de tudo, uma presença — e não uma performance.

11/04/20205