Angústia

Para Lacan, a única maneira de nos livrarmos da angústia é pela fala, pela boca...

Acredito que por isso escrevo... escrever é falar comigo, é sentir aquela contração involuntária do bolo que revira no estomago ser finalmente ejaculado para fora da boca no vômito que alivia.

Escrever é solitário, porém populoso... é silencioso, mas altamente ruidoso... é tranquilo, entretanto, as vezes, insuportavelmente sufocante...

Elaborar ideias, sensações, sentimentos, histórias vividas ou sonhadas, em linhas minimamente coerentes para que se faça compreensível àquele que não mora dentro de mim.

Escrevo, pois assim cuspo o que sou, o que não sou, o que sonho ser e chego a alguma compreensão de mim.

Escrever é aliviar a alma neste exercício físico e mental de arremessar para fora o que me aprisiona. É aprisionar no papel o que me absolve.

É concatenar ideias vagas trazendo para fora, de maneira organizada, o que pulsa ali dentro.

O que se diz vai ao vento, o que se escreve fica... fica para o confronto ou para a paz.

Trabalho duro e suave, doce e amargo, mágico.

Acho que todos que escrevem são um pouco exibidos, se mostram nus, pois não há como se esconder ali... em cada palavra escrita há exigências de um inconsciente inconformado por ser calado. O que está escondido se revela nas entrelinhas, em prosa, ou poesia.

Lacan, como sempre, acertou... só nos livramos da angústia pela boca, no meu caso, sou sortuda, tenho a boca e as mãos!

17/12/23