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Ela não tinha nada que estar ali

  • Foto do escritor: Monica Dominici
    Monica Dominici
  • 29 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de fev. de 2024

Ela não tinha nada que estar ali...

Ela não deveria nem existir...

Pra que serve uma flor no meio da estrada? Pra nada... inútil...

 

Se não tem serventia não merece viver

Só quem tem utilidade deveria habitar esse planeta...

Já tem gente demais...já tem coisa demais...

 

Vamos eliminar o supérfluo...

As artes, as músicas, as danças, as pinturas, as esculturas, a literatura, os poemas, os amores... e as flores...

Completamente desnecessário... dispensável...

 

O problema é que ela tinha um problema... era desobediente...

Imagine só, uma florzinha no meio do asfalto com alta autoestima.

Alguns desaforados não davam a mínima pra ela, não entendiam sua relevância para o mundo, mas ela se dava valor... e como dava... e não dava a mínima pra tantos...

 

Nasceu assim, teimosa...

A culpa foi de um passarinho que a colocou justo ali...

Diferente das outras que viviam em campos e vasos, ela vivia no seco, no duro, no pavimento da estrada de rodagem entre o nada e o lugar nenhum...e pensava que se o passarinho a tivesse semeado em outro lugar, ela não seria ela... não queria ser mais ninguém além de uma flor daquele chão... flores serviam para produzir sementes e serem admiradas e só, mas ela não... ela servia para incomodar, desobedecer, para ser pensada e jamais esquecida... para salvar o mundo e agradecia o passarinho.

 

Não conseguia imaginar sua vida no campo entre todas as outras flores, apenas fazendo o que lhes é predestinado... não acreditava nessa coisa que o destino define tudo... “define nada não... na minha vida quem manda sou eu...”

 

Ela ali sozinha, no calor do asfalto exalava seu perfume, sua cor, sua beleza, mas principalmente, sabia exatamente sua importância no planeta...

 

De burra não tinha nada, sabia das dificuldades que a natureza passava e pensava que se não estivesse ali, naquele lugar, as formigas que andavam em bando sempre trabalhando de um lado para o outro não aguentariam um só dia laboral sem sua ajuda... Elas se empurravam por um lugar a sombra, a sua sombra...ou se refugiavam dos pés d`agua sob suas pétalas.

 

E pensava: as formigas são importantes para o planeta, regulam o meio ambiente, portanto graças a mim o mundo é mundo...

 

Ela era autêntica, e metida...

Não tinha um santo cristão com o mínimo de senso crítico que não ficasse maravilhado com sua força, sua resiliência, sua beleza e formosura. E a aqueles que não a notavam ela não dava a mínima... sabia separar o joio do trigo, quem sim e quem não... e continuava conduzindo a sua vida.

 

No meio daquele cinza sem fim, seu colorido era visto a léguas... o que deveria ser uma estrada comum, por sua presença, era inquietação, estética pura, provocação para aqueles que podiam enxergar além do próprio destino.

 

Sim, era exatamente ali que ela queria estar, e ser... ser o seu próprio ser... sua própria essência...diferente de tudo, legítima, destemida, transgressora, infratora do banal, do esperado, do destino anunciado... sabia que todos aqueles que ousam sair da norma, salvam vários, libertam muitos, empurram alguns... e se lembrava que Eva comeu a maça proibida, e ela vivia em um lugar interditado para flores e que as duas, com suas curiosidade e coragem transformaram o imutável.

15/11/23



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