Foram nadar
- Monica Dominici

- 30 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de fev. de 2024
Dia lindo, sol brilhando, brisa fresca.
Elas foram até a beira do rio, usavam roupas de banho, esticaram suas esteiras, deitaram-se e nada no mundo conseguiria ser mais precioso que aquele momento feliz.
Conversaram sobre tudo, lembraram a vida, riram de doer a barriga.
O calor esquentou seus corpos, resolveram entrar no rio fresco.
Primeiro o dedinho dos pés, as canelas, bem devagar, água fria que doía, mas era superação e continuaram... água no umbigo, levantam os braços, sentiram o vento nos cabelos, olhos fechados prazer indescritível.
Voltaram para as esteiras eufóricas, tomaram chá gelado, deitaram-se e sentiram o prazer da vida em seus cabelos, pele, corpo todo...
O tempo fechou, elas nem perceberam... pra que perceber tamanha insignificância? Tudo é tão maior que só nuvens...
E lá foram elas para o rio outra vez...
Garoa começou, “que delicia nadar na chuva”!
A chuva apertou, a correnteza de repente ficou mais forte, elas achavam graça.
Uma segurando a mão da outra estariam salvas, riam da corrente de água que já não mais deixavam que domassem seus pés...
Galhos das árvores voavam para o rio, alguns boiavam rápidos, batiam nelas, já não tinham pés, nadavam com tanta força que suas mãos se desuniram.
Começo de cansaço, estavam entre o júbilo e a tormenta.
A correnteza as levava para longe das esteiras molhadas pela chuva.
Aventura ou desventura?
Chuva vira tempestade, fluxo da água desembesta de vez, ninguém mais vê ninguém, gritos de medo, força nas pernas, braços, respiração forte e sofrida.
Nadam como guerreiras.
Troncos de árvores flutuam como se o norte fosse atingi-las em cheio. E atingiu... Bateu com vontade em uma delas, ferindo seu corpo já exausto, ela berra que já não aguenta mais... a outra responde para não desistir, ainda tinham chances.
“Não consigo mais nadar!”
Engolindo água, afogando, respirando quase nada, corpos consumidos...
“Essa é a nossa única vida, vamos lutar por ela até o final, se desistir agora amanha não terá mais nada, mas agora ainda temos a chance!” gritou entre goles e goles de água...
Ninguém desistiu, lutaram até o fim... o fim do tormento, com coragem, com urgência, com fé.
Como um passe de mágica bateram em um banco de lama, estacionaram ali seus corpos machucados e esgotados. O sol voltou a brilhar, entrelaçaram as mãos outra vez, subiram na margem e foram caminhando lentamente até as esteiras encharcadas, agora com ainda mais essa história para contar...
15/09/16

Pic Leo Rivas



Comentários