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O bueiro

  • Foto do escritor: Monica Dominici
    Monica Dominici
  • 30 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de fev. de 2024

De repente olho para o chão, para aquele feio e sujo bueiro, e lá, naquilo que não pode ser mais imundo, algo tão sublime me faz sorrir.

Um coração pixado... só isso... tão somente ele, aquele que sente as pulsações cardíacas, vida!

 

Provavelmente alguém, nesta rua cinza de São Paulo, também pensa que só o amor salva. Algum transeunte, divergindo de seu status, fez questão de deixar vestígio.

Não ligando para o que os outros pensam, ou dizem, ele se disse ali.

Confessou, em sua arte, seu pleno reconhecimento que a vida sem amor não se dá.

 

Amar, verbo intransitivo, já pronunciou Mario de Andrade, não necessita de complemento, se explica por si só. Não há dúvidas daquilo que explode, daquilo que quando se vive não se sente fome ou sono ou frio, daquilo que é singular, privado e investido de libido.

 

Um coração pixado no chão sujo de São Paulo é a esperança de que nem todos foram contaminados pela vida que escorre para o bueiro como a água que cai limpa e apodrece em contato com a falta de cuidado.

 

Há que se estar atento, não se distrair com as interferências que certamente irão nos afastar de nossa pulsão de vida, numa repulsão perversa que nos aparta do nosso singular como a força de cargas elétricas de mesmo sinal ao se aproximarem.

Elas trabalharão sem cessar, sem pausa, sem descanso para que nos afastemos de nosso real caminho de gozar a vida com vivacidade.

 

Um coração pixado no chão sujo de São Paulo é um grito de resistência da paixão.

- Hey, eu existo, você se lembra?

 

Tantos passaram por cima daquela arte sem notar. Será que estamos endurecendo demais? Será que estamos desacreditados? Será que a beleza das relações escorreu para o bueiro sujo da cidade de São Paulo?

 

Saber que alguém deixou ali sua súplica pelo amor, me nutre e me envolve no manto da confiança e expectativa por algo lotado de sentido.

 

Coragem, palavra que os etmologistas dizem vir do coração. Talvez daquele coração pixado no bueiro sujo da rua de São Paulo.

 

“A verdadeira felicidade é um verbo. É o desempenho contínuo, dinâmico e permanente de atos de valor. Nossa vida tem utilidade para nós mesmos e para as pessoas que tocamos.” Epiteto em A Arte de Viver.

23/08/23


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